terça-feira, 18 de novembro de 2008

A rua e nós (2)



Charge na revista New Yorker, nos anos 70.
(Tradução livre: "Essa cidade está se tornando um inferno! Isto aqui já foi um estacionamento!")

domingo, 16 de novembro de 2008

Crescer sem planejamento leva à dificuldade de locomoção

"Se você cria um modelo que prioriza simplesmente o aumento das vias, você acaba por financiar o transporte individual. Certamente numa cidade como Vitória seria mais positivo pensar em outros modos de circulação, como ônibus e ciclovias. Isso para fazer uma cidade mais urbana e menos arisca à própria vida do cidadão comum. Porque é muito desagradável quando você anda pela cidade e sente que ela é montada não para você andar, mas sim para o seu carro ir de um ponto ao outro. Isso é lamentável pois você perde a própria essência do viver coletivo. O mesmo acontece com o abandono dos centros antigos. Isso tem gerado a ociosidade de uma infra-estrutura pronta, boa e adequada."

É assim que termina a entrevista do arquiteto Valério Medeiros ao jornal A Gazeta, de Vitória (Espírito Santo). Vale a leitura. Erika, obrigado pela dica.

Beth e a Bicicultura

Aconteceu na semana passada (12 a 15 de novembro) aqui em Brasília um importante evento, não só para ciclistas, cicloativistas e estudiosos de assuntos afins: a Bicicultura foi um marco para toda a sociedade. Não vou tentar fazer aqui, de arremedo, o que a Assessoria de Imprensa da Rodas da Paz (valeu, Wilson!) fez de forma tão competente. Prefiro falar um pouco de Beth Davison.

Por muito tempo eu não consegui me aproximar de Beth e Pérsio, creio que porque não saberia o que dizer a eles. Admirava em ambos a força que tiraram da dor e acho que temia me sentir pequeno diante dos dois – talvez, sei lá, porque também tenho um Pedro, 14 anos mais novo que o Pedro deles. (Não foi por isso que deixei de atender a um convite de Pérsio para uma discussão no IPEA – de fato, naquele dia eu tinha aulas que não ia poder repor depois e lamentei muito não ter podido encontrá-lo em circunstâncias que certamente facilitariam a aproximação.)

Passou o tempo e eu os encontrei no dia 19 de junho deste ano, para uma conversa preparatória da Bicicultura. Maurício, presidente da Rodas da Paz, havia me chamado para essa reunião na Padaria Grão Mestre, na Asa Sul, e Beth me ligou para confirmar. Não sabia que era Beth Davison, só soube quando cheguei e encontrei ela e Pérsio. Não me senti pequeno, na verdade a gente cresce na presença deles.

Depois eu encontrei Beth na UnB, trabalhando duramente para construir a atividade concebida por outra batalhadora, a professora Maria Rosa, para marcar a Jornada Na Cidade Sem Meu Carro. Voltei a ter contato com ela agora, mais recentemente, profundamente comprometida com os preparativos finais da Bicicultura, nos quais eu não consegui me envolver como deveria.

Estive no evento apenas na abertura e na tarde/noite da sexta-feira, embora tenha acompanhado via amigos que foram mais assíduos. Mas foi o suficiente para constatar o quanto de Beth havia nele. Nada mais justo do que a homenagem que ela recebeu na cerimônia de encerramento.

Não sei como era Beth antes de 19 de agosto de 2006, mas sei que hoje ela sintetiza como ninguém a bicicultura (aliás, um nome que é outra bela síntese): seu desprendimento, sua dedicação e, acima de tudo, sua solidariedade são contagiantes. O mundo seria outro se nós soubéssemos promover no trânsito os valores que Beth semeia.

Frankenstein

Muito interessante a visão expressa na postagem CMT - O Frankenstein de Arruda, no não menos interessante site A Verdade sobre o Detran-DF. Um trabalho de gente que valoriza o serviço público e a segurança da população. Sugiro que o leitor coloque o endereço entre seus favoritos e visite-o sempre.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Lições do açodamento

As trapalhadas, noticiadas pela imprensa (veja, por exemplo, a matéria do Correio Braziliense na internet), que foram desencadeadas pela entrada em vigor da lei que criou da CMT (Companhia Metropolitana de Trânsito) confirmam o absurdo que foi a tramitação do projeto na Câmara Legislativa em regime de urgência.

Como eu comentei na primeira postagem deste blog, o governador Arruda pediu urgência (e sua maioria parlamentar docilmente aceitou) para um projeto de lei que dormitava esquecido havia meses na Câmara Legislativa, unicamente para impor uma derrota aos servidores do Detran-DF que estavam em greve pela valorização da categoria. Pois bem, a tramitação açodada, sem passar pelas comissões devidas, resultou nisso que vemos agora: um vácuo na fiscalização, que, apesar de ser atividade essencial para a segurança do trânsito, vem sendo sistematicamente desmoralizada por atos e omissões de dirigentes do governo Arruda (com as honrosas exceções de gente como Silvaim Fonseca e Jair Tedeschi).

É preciso agir com urgência para restaurar a autoridade de quem tem a responsabilidade de zelar pela segurança. Mas também é preciso punir severamente quem, trabalhando com outras agendas que não a do interesse público, produz trapalhadas como essa. Isso é assunto para o Ministério Público?

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A rua e nós

Estive ontem no Ato Público em Defesa da Liberdade de Organização e Autonomia Sindical, uma manifestação importantíssima para preservar a independência dos movimentos sociais e das entidades que eles constituem livre e legitimamente. Mas não é isso que eu quero comentar aqui - quero falar do que é o espaço das ruas e de como ele tem sido apropriado.

Costumo lembrar que desde que a humanidade registra sua história aparecem ruas. Segundo esses registros, é pelas ruas que as pessoas (vejam bem, eu disse pessoas) se deslocam, é nas ruas que as pessoas se encontram, que se faz feira, que as crianças brincam, que os adultos protestam. É assim há 10 mil anos. O automóvel, por seu lado, é um jovem de pouco mais de 100 anos. No entanto, não se pode falar em rua hoje em dia se não for para atender aos automóveis. E isso está tão entranhado em nós que parece até natural.

Voltando ao ato de ontem, impressiona a reação de alguns motoristas à presença de manifestantes na rua. O roteiro da curta caminhada (a maior parte do ato aconteceu nos estacionamentos dos ministérios do planejamento e do trabalho), que ocupou apenas duas das seis faixas que o Eixo Monumental tem em cada sentido, não deve ter provocado mais do que 10 ou 15 minutos de acréscimo no tempo de viagem de quem passava por ali. Será tão difícil assim conviver com o povo se manifestando nas ruas da capital da república?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Fiscais "caros"

Como tenho acompanhado a discussão da CMT com menos intensidade que o Paulo Cesar e o Miura, acabei aproveitando esta distância para me colocar no lugar dos “cidadãos comuns”, ouvindo o que estes têm a dizer. Racionaliza-se da seguinte forma: Precisamos mais fiscalização. Há poucos fiscais. Os fiscais existentes são “caros”. Com a CMT teremos mais fiscais a baixos custos sociais, certo?

Mas se o Sr. subsecretário traz a público (vi isso no DF-TV) que o salário dos Agentes gira em torno R$ 6 a 7 mil – e se isso não é verdade – aí o problema não é apenas complicar ainda mais o “samba do afro-descendente ensandecido”. O nome que se dá a essa estratégia não tem termo politicamente correto que amenize.

domingo, 2 de novembro de 2008

Sobre os salários dos agentes de trânsito

Luís Riogi Miura, ex-diretor do Detran-DF, está aposentado como funcionário de carreira do órgão. Mas nunca deixou de oferecer sua valorosa contribuição à causa do trânsito cidadão e seguro, seja no Distrito Federal, seja nos muitos lugares por onde já passou. Discreto, foi convidado a ser um dos autores deste blog mas preferiu colaborar apenas na forma de comentários. Postou um deles ontem, para o qual eu tomo a liberdade de chamar a atenção do leitor (clique aqui para lê-lo).

O que o comentário de Miura desnuda é a insustentabilidade da proposta da criação da CMT, triste e subservientemente aprovada pela Câmara Legislativa do DF em regime de urgência (portanto sem discussão nas comissões por onde deveria ter tramitado) depois de ter sido mantida por meses e meses longe dos olhos da população. Uso o termo 'insustentabilidade' porque a noção mais aceita, nos dias de hoje e nas mais diversas áreas de conhecimento, para o adjetivo 'sustentável' associa-o àquilo que se faz hoje sem prejudicar as futuras gerações.

Ora, conhecendo a história como nos conta Miura, é óbvio que daqui a alguns anos os fiscais da CMT farão jus a várias das mesmas complementações salariais que os agentes do Detran recebem hoje (e.g. adicionais de periculosidade, de trabalho noturno, horas extras), por causa da similaridade das atividades. É de se esperar também que, a despeito de serem regidos pela CLT, os fiscais também terão penduricalhos criados pelo governo para fazer frente às reivindicações da categoria.

Que ninguém se surpreenda, portanto, se daqui a poucos anos algum governante propuser a criação de uma empresa de fiscalização de trânsito para viabilizar a atividade, porque os cofres do GDF não poderão suportar a contratação de mais marajás para a CMT...