terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Paraciclos na UnB

Uma notícia sobre a implantação de paraciclos na UnB gerou uma interessante discussão na lista da ONG Rodas da Paz. O crítico mais incisivo da iniciativa, que defendeu a adoção de medidas restritivas à circulação de automóveis, argumenta que as pessoas que freqüentam a UnB não abrirão mão do uso de seus carros só porque melhoram as condições infraestruturais (já estou tentando me adaptar às novas regras ortográficas) para os ciclistas. Toda a discussão que se seguiu é muito pedagógica, não apenas para quem postou mensagens na lista mas, creio eu, para todo mundo que se dispuser a refletir sobre as políticas de promoção de modos salutares de mobilidade.

Vou acrescentar um pequeno comentário aqui.

A forma convencional de planejar transportes obedece à lógica que já foi batizada de “prever e prover”: contamos as viagens que são realizadas hoje, estimamos a demanda num certo futuro e projetamos os sistemas que deverão atender a essa demanda.

Isso não funciona com o modo Bicicleta. A ausência de condições de trafegabilidade (sejam elas relativas à circulação, ao estacionamento, à segurança, à imagem ou ao que quer que seja) inibe as pessoas a tal ponto que a demanda não se manifesta. Aliás, a opção Bicicleta muitas vezes não aparece nem mesmo quando é induzida por um entrevistador.

Portanto, em se tratando de pedalar, assim como de andar a pé, não cabe “prever e prover”. O que cabe é “promover” ou, para ser mais categórico “prover e promover”.

Os paraciclos na UnB são fruto da mobilização da própria comunidade, com o protagonismo essencial dos estudantes. Também são estudantes os que protagonizam a iniciativa do Bicicleta Livre na UnB. Há professores e técnicos envolvidos nos dois projetos de extensão, assim como em estudos que visam promover a mobilidade sustentável nos e entre os campi da UnB (a atualização do Plano de Circulação, por exemplo). Mas são os estudantes que estão fazendo as coisas acontecerem.

A recém empossada administração da UnB comprometeu-se com projetos como esses (já desde a elaboração do programa da chapa que venceu a eleição em setembro) e isso certamente fará uma importante diferença. Diferença maior, porém, quem faz é a comunidade, quando assume uma idéia como projeto seu e trabalha para torná-la realidade.

Chegará o dia, tenho certeza, em que caberão restrições aos veículos motorizados. Por ora, ficarei satisfeito com a promoção da sustentabilidade e o combate aos abusos, não só como forma de tornar o trânsito mais civilizado na UnB, mas também pelo efeito demonstração que isso pode causar em nossa(s) cidade(s).

domingo, 21 de dezembro de 2008

Mobilidade e crise econômica

Faz tempo que eu não escrevo aqui, resultado do acúmulo de trabalho no fim do ano. Agora que estou de férias, receio que um assunto que eu quis comentar tenha acabado ficando velho. Mas não faz mal: mesmo velho, acho que ainda merece ser abordado, ainda que apenas brevemente, já que muita gente com muito mais bagagem já disse o que de mais importante precisava ser dito. Trata-se do derrame de recursos na indústria automobilística como receita para sair (!?) da atual crise econômica mundial.

Gostei muito de uma postagem no blog Óleo do Diabo. Isso já faz mais de um mês e eu espero que o blog tenha de fato engrossado o coro em defesa do uso da bicicleta. Mas governantes mundo afora continuam achando que a saída passa pelo estímulo à produção de veículos automotores. Desde as notícias comentadas ali naquela postagem, o governo brasileiro já anunciou mais novos benefícios (agora específicos para a produção de motos), os governos americanos (o atual e o próximo) debatem entre si e com o congresso o tamanho do pacote para salvar a GM, a Ford e a Chrysler, o governo canadense aproveitou o impasse e antecipou-se ao vizinho do sul, e assim vamos nós.

A pergunta que fica é: por que produzir carros é tão importante? Já não são suficientes as evidências dos prejuízos que essa forma egoísta e irresponsável (social, econômica e ambientalmente) de locomoção trouxe para nossa auto-proclamada civilização?

A quem ainda não conhece, recomendo a leitura da matéria intitulada "O totem do capital", escrita por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa numa edição de abril de 2007 da revista Carta Capital. Quem também gosta de leituras menos comportadas já deve ter lido o excelente "Apocalipse Motorizado", de Ned Ludd (Conrad Editora). Se você ainda não leu, aí está uma boa dica para papai noel...