De fato, não há dúvidas de que a medida reduzirá a gravidade de traumatismos causados por colisões e outras ocorrências – raramente acidentais, diga-se de passagem – em condutores e passageiros dos bancos dianteiros de automóveis. E é óbvio que tal redução terá um reflexo positivo na estatísticas, no sistema de saúde etc. Entretanto, o airbag não aumenta a segurança no trânsito, no sentido de evitar sinistros. Aliás, essa é uma diferença importante entre o airbag e o cinto de segurança, embora ambos tenham como principal função proteger os ocupantes do veículo (o que fazem muito bem): o cinto preserva o acesso do motorista aos controles do veículo, se ainda for possível controlá-lo, enquanto o airbag o dificulta, quando não o impede completamente.
Essa diferença explica a obrigatoriedade do cinto, como fator de segurança no trânsito em geral, e justifica o questionamento quanto à obrigatoriedade do airbag. Afinal, em casos extremos (e talvez improváveis, é verdade), o airbag pode dificultar alguma ação do motorista que venha a evitar danos maiores às pessoas que estiverem fora de seu veículo. De todo modo, o airbag pode até não prejudicar quem estiver fora do veículo equipado com ele – mas, diferentemente do cinto, não tem qualquer efeito positivo sobre pedestres e ciclistas, por exemplo.
Especulações à parte, o fato é que nenhuma das emissoras de TV contemplou essa discussão nas edições das entrevistas que eu dei. Sintomaticamente, todas usaram exatamente os mesmos filmes dos testes que comprovam a eficácia do airbag. Faz-nos pensar na força que tem a mão invisível das montadoras e da indústria de autopeças...
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