Mobilidade nas cidades: continuam os desafios
Os problemas relativos ao transporte e mobilidade nas grandes cidades, que desafiam especialistas e estudiosos.
São notórios e crescentes os problemas relativos ao transporte e mobilidade nas grandes cidades, que desafiam especialistas e estudiosos. As soluções para tal problemática foram apontadas durante os debates da 10ª Conferência das Cidades, que este ano tem como tema a mobilidade urbana. Segundo as discussões, a melhoria da mobilidade nas cidades brasileiras passa pela concepção do centro urbano, por uma boa gestão do sistema de transporte público e também pelo envolvimento de toda sociedade, até mesmo das pessoas que não abrem mão do carro particular.
Com relação ao primeiro ponto, sobre centros urbanos, cabe destacar que a estrutura das cidades deixou de ser monocêntrica para, recentemente, principalmente a partir de 1980, tornar-se policêntrica. Estudos relacionam a formação e consolidação dos subcentros urbanos à eficiência e organização das cidades, pois a consolidação de subcentros é capaz de proporcionar aos cidadãos o acesso aos serviços essenciais, dispensando-se deslocamentos motorizados, realizando pequenas viagens a pé ou de bicicleta; ou ainda favorece a possibilidade de acessá-los pelos modos coletivos de transporte.
Assim, a policentralidade que, a partir de “mix” de usos do solo, procura proporcionar residências localizadas próximas aos locais de trabalho, contribui para diminuir a distância dos deslocamentos pendulares e, por conseguinte, de viagens motorizadas. Destarte, são imperiosas políticas de desenvolvimento urbano que favoreçam a consolidação de subcentros desejados no processo de planejamento urbano e de transportes.
Sobre o segundo ponto, ou a gestão do sistema de transporte público, destaca-se a necessidade de políticas específicas e efetivas, nos níveis federal, estadual e municipal que realmente favoreçam a implantação e operação de sistemas de transporte público coletivo – principalmente por ônibus, cujo custo de implantação e operação é relativamente baixo e cuja capacidade de transporte é bastante alta – e o seu uso. Políticas que estabeleçam a correta contratação e gestão adequada dos serviços são indispensáveis; além de políticas tarifárias “criativas”, possibilitando que toda a sociedade pague pelo sistema, e não apenas seus usuários.
O envolvimento da sociedade conclui o terceiro ponto. A sociedade precisa envolver-se na busca por um transporte coletivo de qualidade, no rateio dos custos de implantação e operação de sistemas coletivos e não motorizados, que privilegiem o pedestre e o ciclista, e na partilha da fiscalização dos serviços e investimentos. Afinal, com o aumento do uso do transporte público coletivo e não motorizado (e de qualidade), geram-se menos congestionamentos, menos poluição, menos estresse, menos problemas de saúde. Enfim, melhora-se a qualidade de vida de toda a cidade. E os cidadãos agradecem.
Erika Cristine Kneib é arquiteta urbanista, mestre e doutora em transportes. Atua como professora adjunta e pesquisadora em universidade federal.
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