segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Afinal, de quem é a faixa?

Tenho colado no parachoque traseiro de meu carro o adesivo abaixo, que diz "o trânsito é de todos a faixa é do pedestre". É uma mensagem simples, mas expressa bem o sentido da faixa, a quem pertence aquele espaço.


Portanto, são os motoristas que têm que pedir licença para cruzá-la a bordo de seus veículos, não o contrário.

Por isso mesmo, sempre vi com ressalvas o gesto que o brasiliense batizou de 'sinal de vida'. Claro que ele tem origem na preocupação com a segurança, o que é sempre louvável. Mas, com o tempo, transformou-se quase num ato de mendicância em Brasília: se o pedestre não implorar, o motorista não se sente obrigado a parar para ele na faixa.

Pois bem, em lugar de vermos iniciativas que busquem resgatar a prioridade absoluta do pedestre na faixa, assistimos a ataques à cidadania, como o materializado no projeto de lei da deputada Perpétua de Almeida. Além de querer institucionalizar a mendicância, a deputada não reconhece o direito do pedestre como indivíduo - só um grupo pode fazer um carro parar.

Atenção, a matéria da Agência Câmara dá a pista para a ação de quem não tem motor no lugar do cérebro: só um RECURSO PARA A ANÁLISE DO PLENÁRIO impede que o absurdo siga para o Senado.

4 comentários:

RC disse...

Regredir... em todos os sentidos.

Rafael disse...

Não sei, fiquei em dúvida. Depois que estive em Brasília (sou de São Paulo) fiquei justamente com esse gesto na cabeça por semanas, tentando refletir sobre seu significado. Nunca havia me passado pela cabeça a mendicância, o implorar pela travessia. Mesmo porque o que ocorreu comigo foi muito positivo, uma sensação de direito mesmo, uma ou duas pessoas parando 4 ou 5 carros... ou melhor, 4 ou 5 pessoas motorizadas. Claro, Brasília foi construída com estes intuitos mesmo, e não é o gesto que te salva numa das avenidas largas - aliás, aquele nem é o espaço do pedestre, o que me era estranho. Mas acho que, afinal, o que trouxe foi algo positivo: quer dizer, o sinalizar não pode ser, em si, pejorativo ou inferiorizante, pode? Quando dirijo (é raro), busco sinalizar as conversões inclusive ao pedestre - é horrível quando vc espera o carro passar para poder atravessar e o cara vira uma rua antes. Talvez a sinalização inclua os pedestres, hoje meio invisíveis, na rua, talvez dê visibilidade. Vi o projeto: absurdo mesmo é o artigo que trata das vias de maior fluxo, aconselhando o pedestre a esperar formar um grupo para pedir passagem. Isso sim, é comportamento de bando, meio animalesco, estranha-me. Bom, já estou me alongando. Comecemos os debates. Forte abraço e parabéns pelo blog.

Paulo Cesar disse...

Rafael,

Estou lhe devendo uma resposta há quase três meses. É que, como você pode constatar, não tenho tido muito tempo para o blog. Como hoje voltei ao tema, faço aqui um comentário.

Acho que sua percepção está correta, mas creio que porque ela se coloca a partir do ponto de vista de quem visita Brasília.

Sem dúvida, é muito positivo que motoristas parem ao sinal de pedestres. Porém, na perspectiva de quem vive aqui e acompanha as mudanças de atitude ao longo do tempo, isso pode revelar uma inversão de valores.

É a isso que me refiro no post e minha preocupação maior é com a consagração do gesto em lei nacional, antes mesmo de se generalizar no país a prática de respeitar o pedestre na faixa.

É isso aí. Obrigado pelo comentário (e pelo elogio) e desculpe, mais uma vez, pelo longo silêncio.

Anônimo disse...

é HIPOCRISIA vc ter carro. ANDE DE ONIBUS pra saber o que é ser pedestre em brasília, ou melhor, o que é ser pedestre. eu nunca tive E NEM vou ter carro pq tenho IDEAIS. pq vc mantém um blog destes, dá palestra e sei lá mais o que e continua tendo carro?
deve ser pq concorda com a idéia - que você mesmo sempre propaga nesse blog de que pedestre é pobre.
para divulgar uma idéia, VISTA A CAMISA!