domingo, 17 de maio de 2009

Pedestres têm vez?

O Correio Braziliense que circula hoje tem uma boa matéria (também disponível na internet) sobre as condições que pedestres enfrentam em vias do Distrito Federal. O tema foi tratado por dois graduandos de Engenharia Civil da UnB que orientei em projetos de Iniciação Científica. Os trabalhos deles consisitiram em desenhar e testar procedimentos metodológicos para analisar as soluções que são dadas a conflitos entre fluxos de pedestres e fluxos veiculares; Antônio Marcos estudou o ponto de vista de pedestres e Glauber, o de técnicos de órgãos de trânsito.

Antônio Marcos constatou que os pedestres aprovam as medidas que são adotadas, considerando que algum tratamento é melhor que nenhum. Do relatório final de Glauber, vale a pena transcrever um trecho:

A partir do estudo pôde-se identificar que os profissionais, quando questionados sobre os conceitos de conflitos de tráfego, ainda seguem uma tendência de focarem o componente veicular do trânsito, identificando os cruzamentos e as rotatórias como destaques, citando dentre os elementos principais causadores desses conflitos o aumento do fluxo veicular, a prática de velocidades elevadas, além da geometria viária. Mas quando seguem para a análise das imagens, eles em sua maioria identificam também como elemento formador do trânsito o pedestre, além identificar que eles são a parte mais frágil dentro do sistema viário.

Identifica-se ainda que o fluxo veicular ainda é o aspecto principal considerado pela maioria dos técnicos. Porém, todos reconhecem que isso deve ser repensado, e estão reciclando seus conceitos tentando considerar de forma eqüitativa os três elementos formadores do trânsito, a via, os veículos e as pessoas, tendo estas últimas maior importância em todo esse processo.

Só para termos ideia, seguem exemplos de interseções. São só alguns exemplos da Asa Norte, com uma comparação entre os caminhos que os técnicos que as desenharam esperavam que os pedestres seguissem, e os caminhos que as pessoas realmente fazem.

Na via W3 Norte, o que os técnicos previram:


O que as pessoas fazem:



Entre as SCLN 300 e as EQN 500, como os técnicos previram:


O que as pessoas fazem no mesmo local:


Agora, a melhor de todas - como os técnicos esperam que as pessoas caminhem ao longo do Exinho:


E o que as pessoas de carne e osso realmente fazem:


Um comentário:

Henrique disse...

Salve, Paulo
em primeiro lugar, parabéns pelo blog, que me foi indicado pelo nosso amigo Caíque. Você tem toda razão ao questionar o viés pró-carro dos engenheiros de tráfego. Basta andar em qualquer cidade brasileira (há exceções?) para constatar isso. Mas é uma ideologia que se reflete até no vocabulário usado na engenharia: "fluidez do tráfego", "capacidade viária", tudo isso se refere apenas ao tráfego de veículos motorizados. No entanto, nós temos de dividir a culpa com os nossos colegas urbanistas. Grande parte da má qualidade das cidades para os pedestres vem do desenho urbano. Você está em Brasília, que é um protótipo de cidade desenhada para o automóvel (excluindo as pequenas distâncias dentro das superquadras). O exemplo do Eixinho é claro: ele não foi feito para a circulação de pedestres. Aqui no Rio, a Barra da Tijuca segue esse mesmo modelo, é horrível andar a pé, graças ao plano rodoviarista que define a circulação no bairro. E por aí vai. Temos ótimo material para discutir nesse assunto.
Um abraço.