Foi assim com a entrevista que gravei ontem para uma matéria do DFTV 2ª. Edição, da TV Globo de Brasília, sobre números de autuações de motoristas alcoolizados ao volante. Os comentários que ouvi na manhã de hoje, de alguns colegas que assistiram o jornal, me levaram a crer que minha fala, defendendo ações educativas de caráter permanente, foi colocada em contraposição às ações de fiscalização do Detran.
Mais tarde, recebi da sempre diligente Secretaria de Comunicação da UnB o link para cópia da matéria no seu clipping eletrônico diário. Aí vi que não era bem assim. A repórter Flávia Marsola mostrou que é daquelas que merecem minha admiração - fez uma ótima matéria em um minuto e meio, com todos os ingredientes que listei acima, dizendo tudo que era essencial.
Ou quase tudo. Se fosse eu o editor, teria aproveitado um outro trecho do que falei, logo no início da gravação, dizendo que o número de autuações não é o melhor indicador do sucesso da chamada Lei Seca. No limite, o melhor indicador de sucesso seria nenhuma autuação - não pela falta de fiscalização, mas porque todo mundo estaria convencido dos riscos e evitaria dirigir depois de beber.
Feita a ressalva, prossegui dizendo que o aumento das autuações revelava o esforço de fiscalização para fazer a lei pegar, o que era muito positivo. Em seguida, Flávia me perguntou o que mais precisava ser feito, e foi só aí que eu falei das ações educativas.
Repito que gostei da matéria, que ela deu conta do recado. Mas fiquei preocupado com os primeiros comentários que ouvi nesta manhã. Será que outras pessoas ficaram também com a impressão de que eu estava defendendo as ações educativas no lugar da fiscalização? Espero que não.
Por via das dúvidas, se algum(a) leitor(a) tiver a oportunidade de encontrar Silvaim Fonseca, outro profissional que eu admiro muito (no caso, pelo trabalho à frente da fiscalização do Detran-DF), por favor, convide-o a ler esta postagem também.
2 comentários:
Olá, Paulo César,
Bem, tenho que lhe dizer que você contrapôs a educação à fiscalização. Não é uma impressão, é o que está no texto transcrito da reportagem no link do DF TV.
Não é uma questão do tempo da TV, é uma questão de EDIÇÃO - uma seleção INTENCIONAL dos fatos que obedece a uma determinada interpretação da realidade.
Qual é o fato central da matéria? A morte do sargento da PM, atropelado por um motorista embriagado que dirigia em alta velocidade (ele foi preso? Foi realizado algum teste de alcoolemia? Como sabem que ele estava embriagado? Como sabem que ele estava em alta velocidade?).
O contraponto a esse fato central são as estatísticas de aumento de quase 50% das autuações e prisões de condutores alcoolizados. É um grande resultado, mas fica assim um tanto embaçado por mais uma morte que não foi impedida...
Aliás, prisões e autuações são indicadores fracos de todo esse processo da Lei Seca, como você bem comenta. Eu gostaria de saber o número de exames de alcoolemia realizados em relação ao total de condutores habilitados. Qual é a chance de você sair de noite em Brasília e ser submetido a um teste de alcoolemia? Se quisessemos ainda mais transparência, poderíamos pedir uma distribuição geográfica dos testes em todo DF... Há mais testes em Sobradinho do que no Guará? Mais testes na Asa Sul do que no Lago Sul?
Discordo, portanto, que a matéria deu conta do recado. Ela só contribuiu mais uma vez para essa desconfiança de que a Lei Seca ainda não mostrou a que veio, como comentei no post sobre o primeiro ano da Lei Seca (Mas, entretanto, todavia....
Esse foi o uso, por fim, de sua fala sobre a necessidade de uma ação de educação permanente: se tivessemos educado desde sempre, a famosa lição de casa, seria necessária a fiscalização, ainda por cima essa de tanto e excessivo rigor?
Caro Eduardo Biavati,
Obrigado por seu comentário, como sempre uma contribuição muito boa. Mas não sei se concordo que o centro da matéria era mesmo o assassinato (não cabe outro termo) do sargento.
Pareceu-me que a intenção era discutir os saldos da chamada Lei Seca, com base na efetividade da fiscalização, o caso do assassinato figurando como exemplo para reforçar o argumento. E ainda acho que a matéria foi, no geral, positiva.
Tenho dito em diversos lugares, com todo o cuidado para não diminuir o papel da fiscalização, que o melhor que se pode esperar da Lei Seca é a mudança de valores e atitudes das pessoas, incorporando a ideia da alcoolemia zero. Aí é que entram as ações educativas.
As ações devem se complementar, uma não substitui a outra. Achei que a matéria deu conta disso. Mas posso estar errado, claro.
Forte abraço.
Paulo Cesar
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