domingo, 19 de julho de 2009

Sem integração

Maira Carvalho (muito interessantes os blogs que você acompanha) sugere o tema da falta de integração no transporte coletivo de Brasília para um comentário aqui. "Por que não tem um bilhete único ainda?", pergunta ela.

Aspectos institucionais da operação de transporte coletivo não estão exatamente no foco de meu objeto de pesquisa, mas ainda assim vou arriscar um palpite. Diria que há dois tipos de resposta para a pergunta.

O primeiro, muito usado por sucessivos governos, recorre à complexidade do sistema e às especificidades das ocupações territoriais do Distrito Federal para justificar essa espécie de Idade da Pedra em que vivemos aqui. No mínimo, é a resposta dos preguiçosos - ou será que a complexidade de Brasília é maior do que, digamos, a de Paris ou Londres? Ou de Bogotá, para não ficarmos só no Velho Continente?

A resposta que considero mais realística, porém, tem a ver com a omissão deliberada - e portanto criminosa - do Estado e a consequente entrega dos serviços de transporte público no Distrito Federal à sanha dos caçadores de lucro fácil. Por anos a fio, predomina por aqui a visão de que o transporte é matéria de que as leis de mercado são capazes de dar conta. O resultado é que os serviços ficaram divididos entre alguns 'donos', competindo desreguladamente entre si à revelia das reais necessidades dos cidadãos.

A integração (tarifária e operacional) depende fundamentalmente da articulação institucional entre todos os modos e serviços, sob controle de um ente público (mesmo que não estatal). Infelizmente, ainda estamos muito longe disso aqui em Brasília.

5 comentários:

Unknown disse...

Prof. Paulo Cesar,

obrigada pela postagem!

Eu nunca pesquisei sobre isso e não tenho autoridade nenhuma para falar, mas com meus botões, sempre imaginei que o motivo estava mais para o descaso do que para alguma impossibilidade técnica real.

Espero não estar pedindo demais: adoraria, se possível, alguma indicação de leitura sobre planejamento do transporte público em cidades. Grupos de pesquisa, teses feitas aí na UnB ou em outras universidades, livros, artigos, blogs, qualquer coisa... Me interesso muito sobre o assunto, mas gostaria de me informar melhor para poder discutir com mais propriedade :)

Obrigada novamente, e parabéns pelo blog! Estou lendo desde o comecinho e já assinei no meu leitor de RSS.

Abraços,
Maíra

Paulo Cesar disse...

Maira,

Como eu disse, este não é o foco de minhas pesquisas. De todo modo, recomendo como ponto de partida para suas leituras o conjunto de teses e dissertações produzidas no PPGT, o Programa de Pós-Graduação em Transportes da UnB.

A produção está disponível no portal. Como os textos estão na íntegra, você pode usar as referências bibliográficas para continuar sua leitura.

Espero ter ajudado.

Abraço,

Paulo Cesar

Unknown disse...

Ajudou sim, obrigada pelo link!

Abraços,
Maíra :)

RC disse...

Só li alguns poucos posts, mas queria propor um tema. Por que o transporte PÚBLICO, no Brasil, funciona por concessões à iniciativa PRIVADA? Nova York, Barcelona, Madri, Paris e, para não ficar no G-8, até países da América Latina, têm sistemas públicos ou majoritariamente públicos. A lógica, simples, é de que a eficiência não rima necessariamente com o lucro em primeiro lugar.

Paulo Cesar disse...

RC, vou deixar para atender sua sugestão outro dia - hoje estou motivado para falar de outro assunto, OK?